quarta-feira, 27 de abril de 2011

Memórias Presas

Guardem isso
Façam tudo e deixem me em paz
Tenho o direito de o dizer
Como tens direito de o pedir
Fugir e desbaratar
Manifestar o teu desagrado
Contra as coisas que não te fazem sentir
viver, sorrir..

Guardem o vosso orgulho impubescente
Vejam o que não está a vossa frente
E queixem-se daquilo que não existe
Deixem a vossa ciência eloquente vos guiar
Tal como eu deixo a minha me liderar
Mas deixem-me!
Larguem o pouco de paciência que tenho hoje
E deixem-me em paz!
Façam isso pela minha sanidade
Façam isso por aquele amigo
Aquele que não é sendo
Que foi quando quiseram
E que já não é quando não precisam
Que ajuda se pedirem...
Deixem-me em paz, deixem...

Façam as vossas coisas
Deixem o meu corpo se desintegrar
E as minhas palavras voarem para o de lá
Abram a porta e deixem nas entrar
E deixem em paz
Esta alma cansada
Este meu que foi teu e que agora voltou a ser meu
Deixai-o em paz por hoje
Neste dia aborrecido onde nem música nem poesia
Lhe fazem levantar um pingo de alegria
Um pingo de preocupação, sequer uma emoção
Nesta pequena verdade em que ninguém me sinta
Ninguém se lembre
Ninguém me relembre
Que estou vivo ao relento
Do desaguar da mentira.

Deixem-me a ver estas fotos
Não quero que me tirem esta oportunidade
Esta serenidade transmitida por aquilo que vejo
Aquilo que leio
Aquilo que escrevo
Da minha infância
Das minhas recordações
Do eu que voltou e que sente saudade do que ficou.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ai olhos meus!

Olhos meus!
Aí olhos meus!
Tudo me diziam, tudo me sentiam
Nada me escapavam e em tudo brilhavam
Eram tudo que eu queria
Tudo que eu tinha
Nada que eu dizia
Mudavam sua visão perante mim!

A luz se apagou
Tudo que olham entristece
Seu verde perdeu a esperança
E seu riso magnifico desaparece
Sem um único adeus
Uma palavra por mais gasta que estivesse
Nada, foi e nada
Nada lhe resta
Nada lhe encanta!

Inveja por os ter têm
Mas agora, apenas a mim eles pertencem
Quem os teve já os perdeu
E quem os perdeu ele anseia ver
Com uma lágrima alegre
Cheia de angustia
De palavras gastas.

Já não se passa completamente nada
Como um trapo
Meus olhos são apenas normais
No meio do chão da calçada
Ninguém repara
Ninguém os chama
Ninguém os ama!

Uma escuridão temporária
Passa nos ventos de hoje
As cores mais fascinantes
Em meus olhos se apagam
E como o pássaro lendário
Renascerão
Sorrirão
E por mais um dia amarão
O que não os ama mais!

Aí olhos meus!
Que saudades de teu reflexo
De teu brilho
Da tua vida
Daquilo que mais amo em mim
E que mais escondo
Que saudades de vos ver
Que saudades de vos ter.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Crescer e fazer ver.

Mal nos conhecemos
Inauguramos uma estrada proclamada de vida
Cheia de sorrisos e trambolhões
Cuja arma que usamos nem sempre a sabemos usar.
Falamos muito e fazemos pouco
Somos um pequeno detrito
Numa sociedade repleta de ângulos por limar
E cuja lima está viciada num jogo cheio de fronteiras
Cujas regras são muitas vezes traídas.
Tal como um beijo na boca
As coisas acontecem e marcam
E com o tempo se esquece
Nada fica visível
Tudo fica marcado
Naquele tesouro mágico
Do qual o mapa o perdemos sem nunca o termos tido.
Uma linha veremos um dia
O dia da despedida do conhecimento vivo
Num transporte entre vida e morte
Onde apenas os que se limaram conseguem ser recordados.
Podemos não ser limados
Mas limar os outros com as nossas palavras
Basta sermos o que somos
E fazer crescer os imaturos
Para que de um detrito se forme uma rocha
E de uma rocha uma montanha
Que limpe suas imperfeições
Com a lima que a sociedade corrompe.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vias cruzadas.

Tudo vai e volta
Tudo cresce e morre
Tudo sorri e chora
Tudo se quis e nada... nada se obteve.

Da angústia calada
Sofre o cruel
Com o medo instalado
No seu coração impotente
Chora sem parar
E eu aqui.. olho para ele
Aproximo-me e paro.

De tudo que já vi
De tudo que já vivi
De tudo que já sofri
Vejo-me naquela imagem
Reflectida no espelho
Dada pelas lágrimas daquele ser...
Daquela frágil mulher.

Em busca de sossego e paz
Ela se esconde
corre para longe e grita
E eu ali sigo-a sem nada fazer.

Numa árvore encostada
Sua beleza emerge com a luz que a rodeia
Tudo ao seu redor parece fantástico
Irreal..
Uma imperfeição perfeita
Sublinhada pela ousadia da vida
Dada por ninguém a todos.

Aproximo-me
Simples palavras me saem.
Olho-a nos olhos e levanto-a
Limpo-lhe as lágrimas
E carrego-lhe o cargo
Que a vida ousou dar
Ousou presenciar
Sem nunca sequer lha explicar.